domingo, 23 de novembro de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: O DEUS (IN)VISÍVEL

Gruta dos Anjos, in Socorro - São Paulo. 
“Não é como criança que creio em Jesus Cristo e o confesso. Meus hosanas nasceram de uma fornalha de dúvidas.”
_Fiódor Dostoiévski
 Acredito que uma das coisas mais importantes nos dias de hoje – em que grassa os mais variados tipos de intolerância (principalmente a religiosa) é sabermos respeitar a opção religiosa do outro. Talvez assim tivéssemos menos guerras em nome de fé. Por isso o sábio Santo Agostinho de Hipona já dizia: “Na essência somos todos iguais; nas diferenças nos respeitamos”. Eu respeito toda e qualquer religião.
Nesse final de semana prolongado, tive a rica oportunidade de voltar a minha terra, aonde eu nasci, em Socorro, que fica há uns 145 km de São Paulo. Voltei novamente a “Gruta dos Anjos” que me assustava sobremaneira na minha infância, aliás, infância essa muito prazerosa em que passei inúmeros finais de semana ao lado dos meus primos e tios brincando. Nessa época eu era feliz e sabia!
Mas, já adulto como disse a pouco, ao retornar a tal gruta, tive outra sensação quando estava entrando nela, não mais a de medo, mas uma sensação de Deus. Sim, pois ao contemplar a beleza da Gruta dos Anjos no seu interior, ainda mais com umas carpas nadando no lago que se formou dentro dela, uma sensação de paz tomou conta do meu coração, e pensei:
“Impossível entrarmos num lugar assim, que atravessou vários anos de formação e que hoje permanece incólume e não acreditarmos na existência de Deus.”

Talvez por isso, o apóstolo dos gentios, aos escrever sua carta aos Romanos disse: “Porquanto os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.” (Rm 2.20-21)
Ou como disse Abraham Lincoln: “Posso entender que é possível o homem olhar para baixo, para a Terra, e ser ateu, mas não consigo conceber como pode olhar para cima, para os céus, e dizer que não existe Deus.”
Mas, voltemos a Santo Agostinho, que no livro Saint Augustine, Day by Day, New York, Catholic, 1986, p.17 disse: “Na terra, somos viandantes, sempre prontos para partir.” Isso significa que devemos continuar avançando. Portanto, esteja sempre insatisfeito onde estiver, se quiser ir além. Se estiver satisfeito com o que é, então já parou. Se disser ‘basta’, está perdido. Continue caminhando, avançando, tentando atingir o alvo.
Eu acredito que nossa vida é um curto período de expectativa, um período no qual tristeza e alegria se encontram a todo momento. Há um tipo de tristeza que penetra em todos os momentos de nossa vida. Momentos perfeitos de pura alegria parecem não existir, pois, mesmo nos momentos mais felizes de nossa existência, sentimos uma pitada de tristeza. Em cada satisfação, há a consciência de limitações. Em cada sucesso, há o medo da inveja. Por trás de cada sorriso, há uma lágrima. Em cada abraço, a solidão. Em cada amizade, distância. E, em todas as formas de luz, há o conhecimento das trevas que nos rodeiam. Mas essa experiência íntima, na qual cada fragmento de vida é tocado por um fragmento de morte, pode nos levar para além dos limites de nossa existência. E pode conseguir isso fazendo-nos olhar para frente na expectativa do dia em que nosso coração se encherá de perfeita alegria, alegria que ninguém poderá nos tirar.
Nesse mesmo sentido, eu creio em Jó, quando ele afirmou: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra.” (Jó 19.25).
Ao que faço coro com Mateus 21.9: “E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!”
Amém!
Soli Deo Gloria.
***

4 comentários:

  1. Em cada crença existe um Deus, ou não, tudo depende daquilo que se acredita. Respeitar a crença alheia e essencial para se viver em paz. Parabéns pela crônica. Beijos!

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  2. Oi Alexandra Collazo, muito obrigado pelo comentário! Obrigado mesmo!

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  3. Que lindo! Parabéns!

    Mayara Santos

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  4. Oi May, obrigado pelo retorno!

    Abraços.

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