Não sou rico. Nunca serei.
Minha vantagem (como pobre) é saber esperar. Um esperar sem dor. Porque é
espera sem esperança – ainda mais quando se vive no Brasil. Afora isso – tenho
perdido minhas esperanças na palavra amizade. Aliás, me machuca no fundo da
alma, quando os que se dizem meus amigos tentam tirar qualquer tipo de vantagem
sobre mim. Embora, os mais chegados já saibam – creio que “estes” nessas horas –
os ditos “brothers” se esqueçam completamente de que eu nasci em Socorro –
interior de São Paulo, contudo, me criei nas ruas do Jardim Ângela, zona de sul
de São Paulo, portanto, morando aqui não tem como você ser um bobão. Conheço
gente malandra de longe – as ruas me ensinaram. Embora tentem disfarçar, o seu
cheiro de desfaçatez uma hora exala. Cobra não sabe voar – jamais será colibri.
Toda minha formação veio de
mãe. Ela lia pra mim – quando eu ainda estava em seu ventre (assim,
quando pisei o pé na escola, já sabia ler e escrever) e foi o esteio da
minha vida. Sábia como era, adorava os aforismos que criava assim do nada, numa
mera conversa ao acaso e despretensiosa, transmitia essa espirituosidade a
todos, e em mim pela proximidade – grudavam em minha mente como super bonder. Eis um deles e que vem bem
a propósito:
“É
assim a ganância: uns possuem, outros são possuídos pelo dinheiro!”
E quanta gente se perde nisso?
Um mar de pessoas...
Como ela também gostava de
dizer: “Amigo você nunca perde! Apenas,
descobre que nunca teve!” Quanta verdade, contida em simples palavras. Eis
a magia de mãe.
Gente pilantra, maldosa,
espertalhona e que gosta de tirar vantagem dos outros, quando eles estão
desguarnecidos, andam rente ao chão, receosos não de pisar, mas de serem
pisados. Mal sabem eles que seus espinhos maldosos se cravam não no pé, mas em
seus próprios corações infectados de dolo.
Com o passar dos anos
desenvolvi uma técnica – que não me garbo dela. Vou matando esse tipo de gente
dentro do meu coração. E me afasto por completo. A ausência diz muita coisa.
Meu silêncio é aterrador.
Tive uma infância maravilhosa.
Era feliz e sabia. Mas, num dado dia que me lembro como se fosse hoje, me
recordo que pedi para um desses ditos “amigos” que a vida me reservaria, para
me emprestar sua bicicleta – para que eu pudesse dar uma volta. E ele me negou
isso veementemente, me humilhou e ainda tentou me escorraçar, óbvio que eu fui
embora, mas antes, lhe dei uma bela sova. E chegando em casa, após relatar
tudo, mãe que tinha uma memória dos deuses, puxou um livro da estante e disse
para mim:
-
Marcelo, lhe apresento Caio Fernando de Abreu.
-
Caio Fernando de Abreu, eis o pequeno Marcelo. E leu
para mim:
“NÃO
SOU PARA TODOS. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras
soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá
dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as
pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias”.
Hoje ao refletir sobre uma
amizade que soçobrou, essa lembrança veio bem a calhar. Obrigado mãe...
***
Oi, Marcelo!
ResponderExcluirAmizades que vêm e vão sempre são motivos para reflexões profundas na minha vida. Acho curioso como isso tem relação com o grau de maturidade das pessoas envolvidas e como, de uma maneira ou de outra, a nossa vida fica melhor quando deixamos quem quer ir, partir.
Acredito que a sua mãe tinha razão tanto no que dizia, como em lhe apresentar ao mundo da literatura. ♥ Posso inferir que esta crônica nasceu também por causa dela. Isso é lindo de se ver. :D
Beijos e bom domingo!
Beijos,
Fê
Algumas Observações
Olá Fernanda, bom dia!
ExcluirA priori: me perdoe pela demora! Você tem toda razão, a crônica nasceu por causa dela e também do momento que me frustrei muito com um pessoa que se dizia meu "brother". Mas a vida é assim mesmo, com o tempo a gente descobre que não perdeu - certo amigo, simplesmente ele nunca existiu. Obrigado pela visita e me perdoe pela demora, o meu livro de foto está me exaurindo.
Abraços,