segunda-feira, 27 de maio de 2013

CRÔNICAS AVULSAS: O ABOMINÁVEL SANSÃO DAS NEVES


Da primeira que vez que o peguei, ele cabia em minhas mãos. O tempo se passou, já são sete anos que está conosco, e isso não mudou muito. Também pudera, seu pai era um Poodle Toy e sua mãe uma Yorkshire, não poderia ser diferente.

Nos primeiros dias, chorou o mais que pode – não se adaptava a distância dos pais e irmãos. Foram dias terríveis, mas superou. Ainda me recordo quando acordava de madrugada para distraí-lo, para ver se pegava no sono e nos deixava dormir.

Seu nome foi invenção minha, pois já era sabedor que não cresceria muito, pensei num nome que impusesse respeito para servir de compensação, já que ele não teria muita estatura e porte. Daí veio o nome: Sansão – uma referência clara ao herói bíblico de força descomunal, o que não se aplica muito a sua realidade, mas quem se importa?

Digo para todos que sou meio dono do Sansão, já que foi minha irmã quem ganhou ele, logo é dela a primazia. Sigo conformado com meu papel de coadjuvante na criação dele.

Em casa nunca foi de respeitar muito as ordens, só respeitava minha mãe. Nunca entendemos o porquê disso muito bem. Nesses sete anos que se passaram um dia em especial foi marcante para mim, pois assim que cheguei do interior, vindo do enterro da minha mãe, ele que sempre nos recebia com pulos e latidos de alegria, nesse dia, quando abri a porta, olhou para mim, veio caminhando lentamente e se achegou aos meus pés, se manteve ali em silêncio. Nós dois choramos. Com esse gesto, prestou sua homenagem para minha mãe.

Hoje enquanto lhe acariciava no sofá, pensei: “Você é digno de uma crônica!”.

Acabo de cumprir minha promessa.


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1 comentários:

  1. Que momento lindo....imagino a emoção...Acho que isto que faz das palavras algo mágico: a capacidade que ela tem de transformar uma situacao em algo tão real. JULIANA MARCANDALLE

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