terça-feira, 12 de maio de 2015

CRÔNICAS AVULSAS: AO BRUXO, COM AMOR


Sabe uma daquelas noites perfeitas de preleção? Ouvintes atentos, infraestrutura perfeita e todos ávidos em busca do conhecimento? Assim foi como me senti ao término da palestra: “Machado de Assis: ontem, hoje e sempre” realizada em Socorro-SP, que faz parte do projeto literário: “Sem Fronteiras para o pensamento: Literatura e Poesia – para a vida. Confesso que não é fácil falar sobre o nosso maior escritor, e foi também um grande desafio – porém, ao término e pelo retorno do público, tenho certeza que o dever foi cumprido com excelência.

Machado de Assis é encantador, e como dizia Roberto Scharwz, nada em sua obra é o que parece a primeira vista. Tudo tem segundas e terceiras intenções embutidas em sua prosa. Muitos inclusive dos seus próprios contemporâneos não entenderem muito bem quando saiu “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que dá início a sua segunda fase literária, que é uma guinada literária profunda em sua obra e em nossa história da literatura. Machado de Assis é um divisor de águas. Autor universal que enxergou a alma humana como poucos.

O que mais me encanta em sua obra é a sua versatilidade, pois era poeta, crítico literário e teatral, cronista, contista e romancista. Em tudo foi grande, mas, sem sombra de variação e devido aos seus romances da segunda fase, cravou seu nome na história universal da literatura como romancista. Inventivo como poucos, quando queria – fazia parte da escola do romantismo, e quando não, se embrenhava na escola do realismo. E quando de tudo se entediava – era Machado de Assis. Não entendeu? Eu explico – Machado, por ser crítico literário era inteirado das diversas correntes literárias de sua época, e por ser conhecedor delas, faz justamente um acoplamento delas em sua obra, mas não as segue a risca, ousa, vai além. Um exemplo que poderia citar disso, é que os romances realistas são notadamente marcados pelos narradores em terceira pessoa, contudo, quando dá início a sua segunda fase literária, vai narrar sua obra capital: “Memórias Póstumas de Brás Cubas” em primeira pessoa. Ou seja, ele se valia de todas as correntes literárias ao seu redor, mas, quando ia construir seus romances imprimia nelas o seu estilo, que até hoje é inigualável.

Sua prosa é limpa, simples e profunda ao mesmo tempo. Até hoje não conheci ninguém letrado que não goste dos seus livros, ou que não saibam do que eles tratam, mesmo sem nunca ter lido uma única linha deles. Essa também é uma das características dos clássicos – como se sabe.

Ler Machado de Assis é descobrir um mundo novo; pois quem estuda somente os homens, adquire o corpo do conhecimento sem a alma; e quem estuda somente os livros, a alma sem o corpo. Quem adiciona observação àquilo que vê, e reflexão àquilo que lê, está no caminho certo do conhecimento, contanto que ao sondar os corações dos outros, não negligencie o seu próprio. E Machado de Assis é um recreio para os olhos e um alimento formidável para a nossa alma nesse aspecto.


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