sexta-feira, 15 de maio de 2015

CRÔNICAS AVULSAS: REFLEXÕES DO SEMÁFORO


OLD MAN IN SORROW (1890) - VAN GOGH

Não sei seu nome. Mas, sei que todos os dias, após o almoço ele se instala entre o semáforo da Av. Comendador Sant’Anna com a Estrada do M’Boi Mirim, e começa a fazer seus intermináveis malabares. Utiliza para isso cocos verdes vazios, da última vez que o vi, ele fazia seu espetáculo com 5 cocos que bailavam no ar entre suas mãos prodigiosas. E sempre que começa a fazer seu show, assobia, e seu assobio é tão alto que mesmo a metros de distância em minha casa é possível ouvi-lo perfeitamente. Utiliza desse recurso para chamar a atenção dos carros, motos e transeuntes que cruzam esse semáforo.

Sempre que o vejo, me vem à mente o suplício de Tântalo – oriundo da mitologia grega; que nada mais é do que um sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável. Em todo esse tempo, nunca vi nenhuma pessoa sequer dar uma contribuição para o seu espetáculo.

Ontem, fez 10 anos do caso mais escabroso da nossa nação em termos de corrupção, o famigerado: mensalão. E estamos agora acompanhando mais um caso igual ou até maior em termos de roubalheira do dinheiro público, que colocou nossa maior empresa, a Petrobras de joelhos.

A vida desse homem do semáforo, minha e de muitos outros brasileiros poderiam ser bem melhores do que as atuais condições, se em nosso país os políticos usassem a verba pública para a população ao invés de privilegiarem somente seus bolsos com enriquecimento ilícitos cada vez mais assustadores.

A soma do rombo da Petrobras alcança a casa de bilhões, enquanto nossa saúde, educação, transporte, cultura, segurança ficam a míngua. Ontem, ainda em casa assisti na televisão que a quantidade de leitos dos hospitais públicos só diminui a cada ano, e que os pagamentos do SUS não cobrem nem a metade dos gastos reais, logo, a conta não fecha e a tendência é só piorar. Vi ainda que homens e mulheres chegam a ficar por mais de 8 horas para serem atendidos em um hospital público. Uma vergonha. Talvez por isso no Brasil poucos acreditem que realmente existam políticos competentes e honestos.

O que nos resta a fazer? Protestar, ainda que de imediato tais ações não resultem em mudanças. Não me recordo de políticos que ficaram presos por seus escândalos, e no mensalão alguns foram presos. Não me recordo de dinheiro pilhado que foi repatriado para sua conta de origem. E no petrolão, recentemente ao menos uma parte do rombo foi devolvido aos seus cofres. Há esperança ainda por dias melhores. Nosso judiciário com Joaquim Barbosa e recentemente com Sérgio F. Moro, dão provas disso.

Oxalá que novos dias surjam em nossa nação... E enquanto eles não chegam, protestamos, pois essa é a única arma que nos resta.  


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1 comentários:

  1. Óla tudo bem? quanto tempo !!! estou passando visitando seu blog como sempre uma maravilha de se lê.

    Bjs Lú

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