domingo, 27 de setembro de 2015

CRÔNICAS AVULSAS: ZERAR A VIDA



Sete Maçãs (1877) de Paul Cézanne


Que vivemos na era do capitalismo, nada de novidade. Que vivemos na era do consumismo desenfreado, nenhuma novidade. Que o Brasil está afundado em uma crise financeira sem precedentes, com o dólar quase chegando a custar R$ 5,00, e mesmo assim um brasileiro é o primeiro no mundo a comprar um iPhone 6s Plus, por $ 1.530,00 dólares australianos, o equivalente a R$ 4.200,00 – isso sim é novidade. Ainda mais alçada aos píncaros das futilidades humanas, quando o presidente-executivo da Apple, Tim Cook – faz menção desse feito via seu twitter. Assim é a vida caro leitor.

Confesso que quanto tomei conhecimento que o estudante brasileiro, Vitor José da Cunha Epiphanio, foi a primeira pessoa no mundo a comprar o mais novo brinquedo da Apple, o iPhone 6s Plus, fiquei espantado. Queria muito acreditar que a crise econômica no Brasil, tinha acabado, mas isso foi apenas um devaneio meu.

Vitor foi capaz de acampar na loja da Apple na Austrália, desde do dia 21, pois a venda só seria à partir do último dia 25 de setembro. Quanta obstinação! Cinco dias numa fila para comprar um celular, realmente não é para qualquer um. E o melhor ainda estava por vir, quando o jovem Vitor nos brindou com essa pérola em sua fala:

“Eu zerei a vida. Ele é só o CEO da maior empresa do mundo”.

Ele disso isso em referência ao twitter de Tim Cook.

Preciso ser sincero: não tenho nada contra a Apple! Aliás, meu celular é um iPhone 4s, que estou muito satisfeito e que me atende muito bem. A questão aqui não é também a crise financeira que o Brasil se meteu, graças a nossa Presidenta e muito menos a fala jovem Vitor ou do Tim Cook – agradecendo em nome do capitalismo a primeira compra no mundo do seu novo celular.

A questão é remota. Vem desde nossa criação – nos jardins do Éden. E está entranhado em nosso ser - simplesmente: desejo. Que também para nossos antepassados já era desenfreada e hoje contínua nessa mesma toada. Note que se a humanidade não fosse tanto insana no tocante ao seu desejo tresloucado do “ter” de que valeria o conteúdo dessa matéria – tão alardeada em vários meios de comunicação? Simplesmente de nada.

Mais importante do que zerar a vida, comprar o objeto de desejo da última hora, ter seus cinco minutos de fama, é aprender a zerar nossos desejos – quem sabe a vida pode se tornar mais leve e melhor assim.

E já que somos seres que desejam, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados e que não pense tanto em comprar, mas em viver...

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