O GRITO
(1893), de Edvard Munch
Os últimos acontecimentos da
sexta-feira 13 em Paris – chocaram a todos. Assistimos a escalada do terrorismo
em sua proporção mais bestial que o ser humano pode chegar. O Estado Islâmico, também
conhecido como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) assumiu a autoria.
Tomei conhecimento dos fatos assim que cheguei em casa, após um dia normal de
trabalho, por volta das 18h30 – e não parei mais de pesquisar informações sobre
o assunto. Foi impossível não ficar impactado com essa hecatombe.
Quando penso sobre o ISIS,
chego à conclusão de que os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram
porque nunca pensaram na questão, e, sem lembrança, nada consegue detê-los. O
maior mal não possui raízes, e, por não ter raízes, não tem limites, pode
chegar a extremos impensáveis – como todos nós vimos absortos pela televisão.
Acredito que uma pessoa pode
ter boa ou má índole, ser amável ou grosseira, mas caso se trate de um ser
pensante, arraigado em seus pensamentos e lembranças, e, assim, conhecedor de
que tem de viver consigo mesmo, haverá limites para o que se pode permitir
fazer e esses limites não lhe serão impostos, de fora, mas auto-estabelecidos.
Ainda que esse limite possa variar de pessoas para pessoa.
O mal ilimitado e extremo só é possível quando essas raízes cultivadas a partir do eu, que automaticamente limitam as possibilidades, estão inteiramente ausentes. Elas estão ausentes quando os homens apenas deslizam sobre a superfície dos acontecimentos, quando se deixam levar adiante sem jamais penetrar em qualquer profundidade que possam ser capazes.
Ora, não é justamente essa
alienação através da religião que o Abu Bakr al-Baghdadi, que se declarou o
primeiro califa ao fim de várias gerações, fez no púlpito da Grande Mesquita de
al-Nuri, em Mossul? Ou seja, através do véu da religião as pessoas vão sendo cegas,
e cometem os atos mais bárbaros contra a humanidade. O ISIS anda a passos
largos, já conquistou Mossul, no Iraque, em Junho passado, e já exerce poder
sobre uma área maior do que o Reino Unido. O afluxo de jihadistas que se
seguiu, vindo de todo o mundo, foi inédito em ritmo e quantidade, e ainda não parou.
Creio que os maiores males são cometidos por indivíduos que se recusam a ser uma pessoa – que se escondem sob uma religião. E isso significa que um malfeitor que se recusa a pensar por si mesmo em suas ações, realmente deixou de se constituir como alguém. Sendo um ninguém, se revela inadequado para o relacionamento com os outros que, bons, maus ou indiferentes, são no mínimo pessoas.
Certamente, a própria
humanidade do homem perde sua vitalidade na medida em que ele se abstém de
pensar.
Ainda resta a esperança na solidariedade e na dignidade humana, valores morais capazes de impedir essa barbárie numa época de experiências catastróficas e de tempos sombrios.
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