sábado, 21 de novembro de 2015

CRÔNICAS AVULSAS: TEMPOS SOMBRIOS



O GRITO (1893), de Edvard Munch

Os últimos acontecimentos da sexta-feira 13 em Paris – chocaram a todos. Assistimos a escalada do terrorismo em sua proporção mais bestial que o ser humano pode chegar. O Estado Islâmico, também conhecido como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) assumiu a autoria. Tomei conhecimento dos fatos assim que cheguei em casa, após um dia normal de trabalho, por volta das 18h30 – e não parei mais de pesquisar informações sobre o assunto. Foi impossível não ficar impactado com essa hecatombe.
Quando penso sobre o ISIS, chego à conclusão de que os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão, e, sem lembrança, nada consegue detê-los. O maior mal não possui raízes, e, por não ter raízes, não tem limites, pode chegar a extremos impensáveis – como todos nós vimos absortos pela televisão.
Acredito que uma pessoa pode ter boa ou má índole, ser amável ou grosseira, mas caso se trate de um ser pensante, arraigado em seus pensamentos e lembranças, e, assim, conhecedor de que tem de viver consigo mesmo, haverá limites para o que se pode permitir fazer e esses limites não lhe serão impostos, de fora, mas auto-estabelecidos. Ainda que esse limite possa variar de pessoas para pessoa.

O mal ilimitado e extremo só é possível quando essas raízes cultivadas a partir do eu, que automaticamente limitam as possibilidades, estão inteiramente ausentes. Elas estão ausentes quando os homens apenas deslizam sobre a superfície dos acontecimentos, quando se deixam levar adiante sem jamais penetrar em qualquer profundidade que possam ser capazes.
Ora, não é justamente essa alienação através da religião que o Abu Bakr al-Baghdadi, que se declarou o primeiro califa ao fim de várias gerações, fez no púlpito da Grande Mesquita de al-Nuri, em Mossul? Ou seja, através do véu da religião as pessoas vão sendo cegas, e cometem os atos mais bárbaros contra a humanidade. O ISIS anda a passos largos, já conquistou Mossul, no Iraque, em Junho passado, e já exerce poder sobre uma área maior do que o Reino Unido. O afluxo de jihadistas que se seguiu, vindo de todo o mundo, foi inédito em ritmo e quantidade, e ainda não parou.

Creio que os maiores males são cometidos por indivíduos que se recusam a ser uma pessoa – que se escondem sob uma religião. E isso significa que um malfeitor que se recusa a pensar por si mesmo em suas ações, realmente deixou de se constituir como alguém. Sendo um ninguém, se revela inadequado para o relacionamento com os outros que, bons, maus ou indiferentes, são no mínimo pessoas.    
Certamente, a própria humanidade do homem perde sua vitalidade na medida em que ele se abstém de pensar.

Ainda resta a esperança na solidariedade e na dignidade humana, valores morais capazes de impedir essa barbárie numa época de experiências catastróficas e de tempos sombrios.

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