sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

CRÔNICAS AVULSAS: AO MESTRE CHARLES M. SCHULZ COM CARINHO


Estreou ontem o filme: The Peanuts Movie. Eu como fã assumido, irei conferir essa película no cinema hoje. Charles M. Schulz o criador dos Peanuts foi um artista ímpar e não à toa seu personagem Snoopy, em 2015 – ganhou merecidamente um espaço na concorrida calçada da fama em Hollywood.
Quando reflito sobre as tirinhas dos Peanuts que lia quando criança, penso que a verdadeira arte não embala os adormecidos. Desperta-os. E Schulz tem esse raro dom, ou seja, de nos despertar para a imaginação. Vivemos numa época em que tudo é tão enlatado que pouco nos é oferecido para exercitarmos nossa imaginação. Por isso vivemos numa época de pobreza das palavras.
Uma reflexão simples, que suas tiras despertaram em mim é que o homem é um ser que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois é ela que caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal. Em outras palavras, a linguagem animal visa a adaptação a uma situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como um abstrato da situação. A palavra distancia o homem da experiência vivida, tornando-o capaz de reorganizá-la numa outra totalidade, que lhe dará um novo sentido.
É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento. Enquanto o animal vive sempre no presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada momento.
A linguagem, ao mesmo tempo que permite o distanciamento do homem sobre o mundo, por meio da representação simbólica e abstrata, também é o que permitirá o retorno ao mundo para transformá-lo.Portanto, se o homem não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, torna-se incapaz não só de compreender o mundo que o cerca, mas também de agir sobre ele.
Na literatura, é belo (e triste) o exemplo que Graciliano Ramos nos dá com Fabiano, personagem principal de Vidas Secas. A pobreza do seu vocabulário prejudica a tomada de consciência da exploração a que é submetido, e a intuição que tem de sua situação não é suficiente para ajudá-lo a reagir de outro modo. Outro exemplo é o que o escritor inglês George Orwell apresenta no seu livro 1984, onde, num mundo do futuro dominado pelo poder totalitário, uma das tentativas de esmagamento da oposição crítica consistia na simplificação do vocabulário realizada pela “Novilíngua”. Toda gama de sinônimos era reduzida cada vez mais, logo: pobreza no imaginar, pobreza no falar, pobreza no pensar, impotência no agir. 
O artista é a última linha da sociedade, quando ele desiste é porque não resta mais nada. Graças a Deus o Charles M. Schulz nunca desistiu de suas tirinhas. Schulz criou uma das histórias mais longas já contadas por um ser humano, pois de acordo com Robert Thompson, da Universidade de Syracuse, Schulz criou "sem dúvida, a história mais longa jamais contada por um ser humano".
No total, Schulz produziu 17.897 tiras, publicadas por 50 anos. E elas são republicadas até hoje. Em seu auge, a tirinha Peanuts foi publicada em 75 países, em 21 idiomas diferentes.
Um dado curioso que poucas pessoas sabem, é que o menino Charlie Brown é o alter ego do próprio Schulz, que levou para suas tirinhas o que ele mesmo viveu por um longo período em sua vida; pois ele empreendeu em várias áreas e fracassou em todas; exceto com suas tiras. Lembrem que o Minduim, por exemplo nunca ganhou uma partida de baisebol. O Snoopy também é um alter ego do seu criador, pois ele tem fumos de grande escritor e escrevia numa maquina de datilografar, sempre com ar de grande erudito. Ele não deixa de brincar consigo mesmo através desse beagle mais famoso do mundo.
A Garotinha Ruiva, menina por quem Charlie Brown é apaixonado em Peanuts, foi baseada em uma mulher da vida de Schulz, chamada Donna Mae Johnson. Schulz deu o nome de seus amigos a vários outros personagens de Peanuts, como por exemplo, Linus e Shermy, personagens de destaque de Peanuts, foram batizados em homenagem a dois bons amigos de Schulz, Linus Maurer e Sherman Plepler. Seus Parentes também foram fonte de inspiração. A personagem Patty Pimentinha foi inspirada em Patrícia Swanson, prima de Schulz por parte de mãe. O sobrenome Pimentinha foi escolhido porque Schulz viu um pacote de balas de hortelã-pimenta (peppermint, em inglês) na casa dela.
Mais do que sua identidade ou CPF, você vale quanto sonha e o que faz desse sonho!
Obrigado Charles M.Schulz, por me ajudar a também nunca desistir dos meus sonhos como o senhor fez em suas tiras.
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