Estreou
ontem o filme: The Peanuts Movie. Eu
como fã assumido, irei conferir essa película no cinema hoje. Charles M. Schulz
o criador dos Peanuts foi um artista ímpar e não à toa seu personagem Snoopy,
em 2015 – ganhou merecidamente um espaço na concorrida calçada da fama em
Hollywood.
Quando
reflito sobre as tirinhas dos Peanuts que lia quando criança, penso que a
verdadeira arte não embala os adormecidos. Desperta-os. E Schulz tem esse raro
dom, ou seja, de nos despertar para a imaginação. Vivemos numa época em que
tudo é tão enlatado que pouco nos é oferecido para exercitarmos nossa
imaginação. Por isso vivemos numa época de pobreza das palavras.
Uma reflexão simples, que suas tiras despertaram em mim é que
o homem é um ser que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano,
pois é ela que caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal. Em
outras palavras, a linguagem animal visa a adaptação a uma situação concreta,
enquanto a linguagem humana intervém como um abstrato da situação. A palavra
distancia o homem da experiência vivida, tornando-o capaz de reorganizá-la numa
outra totalidade, que lhe dará um novo sentido.
É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento. Enquanto o animal vive sempre no presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada momento.
É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento. Enquanto o animal vive sempre no presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada momento.
A linguagem, ao mesmo tempo que permite o distanciamento do
homem sobre o mundo, por meio da representação simbólica e abstrata, também é o
que permitirá o retorno ao mundo para transformá-lo.Portanto, se o homem
não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, torna-se incapaz
não só de compreender o mundo que o cerca, mas também de agir sobre ele.
Na literatura, é belo (e triste) o exemplo que Graciliano
Ramos nos dá com Fabiano, personagem principal de Vidas Secas. A pobreza do seu
vocabulário prejudica a tomada de consciência da exploração a que é submetido,
e a intuição que tem de sua situação não é suficiente para ajudá-lo a reagir de
outro modo. Outro exemplo é o que o escritor inglês George Orwell apresenta no
seu livro 1984, onde, num mundo do futuro dominado pelo poder totalitário, uma
das tentativas de esmagamento da oposição crítica consistia na simplificação do
vocabulário realizada pela “Novilíngua”. Toda gama de sinônimos era reduzida
cada vez mais, logo: pobreza no
imaginar, pobreza no falar, pobreza no pensar, impotência no agir.
O artista é a última linha
da sociedade, quando ele desiste é porque não resta mais nada. Graças a Deus o
Charles M. Schulz nunca desistiu de suas tirinhas. Schulz criou
uma das histórias mais longas já contadas por um ser humano, pois de acordo com Robert Thompson, da Universidade de
Syracuse, Schulz criou "sem dúvida, a história mais longa jamais contada
por um ser humano".
No total, Schulz produziu 17.897 tiras, publicadas por 50 anos. E elas são republicadas até
hoje. Em seu auge, a tirinha Peanuts foi publicada em 75 países, em 21 idiomas
diferentes.
Um dado curioso que poucas pessoas sabem, é que o menino
Charlie Brown é o alter ego do próprio Schulz, que levou para suas tirinhas o
que ele mesmo viveu por um longo período em sua vida; pois ele empreendeu em
várias áreas e fracassou em todas; exceto com suas tiras. Lembrem que o Minduim,
por exemplo nunca ganhou uma partida de baisebol. O Snoopy também é um alter
ego do seu criador, pois ele tem fumos de grande escritor e escrevia numa
maquina de datilografar, sempre com ar de grande erudito. Ele não deixa de
brincar consigo mesmo através desse beagle mais famoso do mundo.
A Garotinha Ruiva, menina por quem
Charlie Brown é apaixonado em Peanuts, foi baseada em uma mulher da vida de
Schulz, chamada Donna Mae Johnson. Schulz deu o
nome de seus amigos a vários outros personagens de Peanuts, como por exemplo, Linus e Shermy, personagens de destaque de Peanuts, foram
batizados em homenagem a dois bons amigos de Schulz, Linus Maurer e Sherman
Plepler. Seus Parentes
também foram fonte de inspiração. A personagem Patty Pimentinha foi inspirada em Patrícia Swanson,
prima de Schulz por parte de mãe. O sobrenome Pimentinha foi escolhido porque
Schulz viu um pacote de balas de hortelã-pimenta (peppermint, em inglês) na
casa dela.
Mais do que sua identidade ou CPF, você vale quanto sonha
e o que faz desse sonho!
Obrigado Charles M.Schulz, por me ajudar a também nunca
desistir dos meus sonhos como o senhor fez em suas tiras.
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