quinta-feira, 11 de setembro de 2008

HISTÓRIAS PARA QUEM GOSTA DE PENSAR

“É claro que o incidente lhes deu a oportunidade de evocar outros arrufos minúsculos de outras tantas manhãs perturbadas. Uns ressentimentos mexeram em outros, reabriram cicatrizes antigas, transformaram-nas em feridas novas, e ambos se assustaram com a comprovação desoladora de que em tantos anos de luta conjugal não tinham feito mais do que pastorear rancores”.

(O Amor nos Tempos do Cólera – Gabriel García Márquez)


Era uma vez um lindo canário que gostava de analisar as conversas que ouvia. Certo dia enquanto voava docemente pela floresta, pode ouvir uma conversa interessante entre o Sagüi e o Lobo. Diante de um pé de jacarandá frondoso, estavam os dois senhores discutindo sobre os relacionamentos humanos.

- Senhor Sagüi, porque será que existe tanto desencontro nos relacionamentos dos seres humanos? Haja vista, que hoje em dia é moda discutir estes assuntos, e até existem programas da TV, que só falam a este respeito. Que tentam a todo custo, reatar laços que se desataram por diversos motivos. Ou formar novos casais. Perguntou o senhor Lobo.


- É porque todos, algum dia já sentiram na pele uma desilusão amorosa, e quando os humanos vêem os dramas alheios enfrentados por outras pessoas, se identificam de imediato e ficam presos a TV, disse o Senhor Sagüi com ar de assombro.


- Mas será que é sempre assim então? Desilusão atrás de desilusão? Perguntou o senhor Lobo, com ar científico.


- Não respondeu rapidamente o senhor Sagüi. Você anda meio pessimista, meio down caro amigo Lobo, até parece àquele pobre diabo da mitologia grega. Que se chamava Tântalo: o coitado todo dia empurrava montanha acima uma grande pedra que voltava a rolar pela encosta, a fim de que o torturado recomeçasse mais uma vez, e assim sua tristeza era inacabável. E seu labor interminável. Sem perspectiva de melhora.



- Mas senhor Sagüi me diga então? Como é possível ter uma relação boa, já que perfeição somente no céu?


- Que pergunta difícil senhor Lobo, pois a mesma é quase sem solução: tendo em vista, que cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou a dois são diferentes. Mas uma humana sábia, chamada Lya Luft, disse certa vez assim:

“Que um relacionamento não seja um cárcere; que não seja um hospital, nem muleta; mas que seja vida, crescimento (vicissitudes eventuais incluídas).
Que seja liberdade e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou um olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita.Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.Que seja presença e companhia no relacionamento: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós”. Arrematou o senhor Sagüi.

-Ah! Sim. Agora deu para eu entender, o que os humanos não entendem. Refletiu com admiração o senhor Lobo.

E enquanto isso, o canário pensava com seus botões: - Mas, será que um dia os humanos irão entender isto? E continuava a pensar... E bateu asas... Voava... E voava... Procurando uma conversa alheia para refletir.

PS. Por fim, para que não haja imbróglio, acho bom citar Rubem Fonseca:

“Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência”.

1 comentários:

  1. Fato! Relacionamentos são difíceis....mas é fato que o amor é algo divino e por isso seguimos rumo à ele...um dia a pessoa certa aparece....um dia os semelhantes se encontram...pois não acredito que os opostos possam durar...
    Um dia...os romanticos e loucos serão percebidos.....um dia...e seja o amor eterno enqueanto dure...
    "...E a tua história, eu não sei... Mas me diga só o que for bom...Um amor tão puro que ainda nem sabe.... A força que tem....e é teu e de mais ninguém"

    Lu.

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