quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

CONTO: O ENCANTO DA POSSIBILIDADE

É engraçado que quando atingimos a maioridade, algumas lembranças do passado, nunca se apartam de nós. Boas ou ruins. Mas minha experiência me diz, que as recordações tristes, são as que têm maior preponderância e que se sobressaem mais. O motivo disso desconheço. Também aprendi, com o passar dos anos, que uma pessoa só consegue nos ferir, quando deixamos que isso aconteça. Pena que essa maturidade e percepção de vida, não os tive – quando era jovem; e enfrentei maus momentos, enquanto lecionei na escola pública.
Ainda consigo me lembrar nitidamente, daquele diálogo áspero que tive, com um professor, numa certa tarde:

- Eles são fracassados. Basta olhar nos olhos deles. Disse o professor Josias Bento.
- Não vejo a coisa, por esse prisma. Rebati, educadamente.
- Vejam o aproveitamento deles em sala de aula. As lições de casa, suas notas – tudo é pífio!
- Você se acha Bento, incólume desses resultados?
- Obviamente que sim. Lavo minhas mãos, são alunos baderneiros, sem respeito algum e perigosos. Não tem interesse pelo saber. Casos perdidos.


Discussões assim, tive muitas e constantemente. Contudo, não me deixava levar pelo discurso fatalista e hipócrita, que há muito tempo solapou a alma desses professores. A maioria deles eram velhos de carreira, sempre me diziam que meu ardor, era coisa da minha juventude, e que logo iria passar. Ainda mais, quando me deparasse com a dura realidade do professorado no dia-a-dia. Sempre ouvia em sinal de respeito, embora suas palavras fosse duras e desesperançosas, nunca as capitulei na minha práxis pedagógica; e jamais permiti a mim mesma, enxergar barreiras no que fazia. Dentro do meu íntimo, sempre tive a certeza, de que mudar é possível; sendo a educação o caminho para essa guinada. Quanto mais pensava nisso, tirava forças de onde não existiam e mais me doava aos meus alunos. Nunca desisti de nenhum deles, e sempre estive disposta a ensinar mais uma vez, duas, três, quatro, quantas vezes fossem necessário.


A EDUCAÇÃO DA VIRGEM (1842), DE EUGÈNE DELACROIX
Não preciso nem dizer os resultados que obtive, face os professores pusilânimes.
Os anos se passaram céleres, e chegou o dia da minha aposentadoria. O melhor de tudo, era poder dormir com minha consciência tranqüila, de que tinha feito meu melhor; e que tinha preparado meus alunos e alunas para a vida.
Num desses dias, enquanto passeava a toa pelas proximidades da minha casa, tive a grata surpresa de reencontrar, um ex-aluno. A emoção com que me abraçou efusivamente, me comoveu; quando se findou o abraço, me disse:

- Nunca esquecerei das suas aulas. Elas tinham algo de mágico. Sempre serei grato a você eternamente, por tudo que fez por mim e pelo que sou hoje.

Nesse instante, como num flash, veio a minha cabeça, tudo que enfrentei naquela escola, em busca do meu ideal de educação, por anos a fio. Tive a plena certeza de que minha vida, não tinha transcorrido em vão. Aquela mesma sensação, que tinha dentro de mim, que sempre me impulsionou, teve um renascimento como a fênix, e disse para ele:

- Educar é ensinar o encanto da possibilidade. E fico feliz, que dentre as inúmeras possibilidades e escolhas que você teve, escolheu a melhor para sua vida.
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