RESPIRANDO O SEGUNDO VENTO, DE DUY HUYNH
Zé Periquito pulou o muro da fazenda Ali Babá, que pertencia ao Sinhô Benedito, para roubar marrecos-mandarins que viviam na lagoa. Essa fazenda lembrava o palácio das Mil e uma Noites, só que ao invés de dez mil aposentos, sua extensão de terra era a perder de vista, e ficava incrustada ao lado de uma reserva indígena.
O astuto do Zé Periquito caiu e quebrou o braço. Foi se queixar ao pajé: “Sombra de Deus na Terra! O maldito e rico do Sinhô Benedito ergueu um muro tão alto para proteger sua lagoa que eu, indo roubar os marrecos-mandarins, caí e quebrei o braço. Sinhô Benedito deve ser esquartejado!”
O pajé mandou chamar Sinhô Benedito, repetiu a queixa do ladrão e ouviu a desculpa: “Luz enviada dos céus para iluminar o mundo! A culpa foi do pedreiro-mestre, que ergueu o muro mais alto do que o combinado. Gastou tanto o meu dinheiro que caí na miséria!”
O pedreiro-mestre foi chamado pelo pajé, que o culpou imediatamente de ter quebrado o braço de Zé Periquito e de ter levado a falência Sinhô Benedito. Mas o réu explicou: “Pai de todos os espíritos! Eu ia erguer o muro pela metade, mas certa manhã vi a formosa e inteligente Lohana, filha do Sinhô Benedito, dando comida aos marrecos-mandarins. Daí eu aumentei o muro para que eu a pudesse proteger e ver mais e melhor. Por causa dela, gastei demais e perdi o emprego. Ela deve ser afogada na cachoeira sete quedas!
A formosa e inteligente Lohana foi chamada e ia ser afogada na cachoeira sete quedas por ter desempregado o pedreiro-mestre, falido o pai e quebrado o braço do ladrão. Mas ela disse serenamente: “Pedaço do Sol que nos aquece todas as manhãs! Preciso dar comida aos meus marrecos-mandarins; como vivem na lagoa e de lá não saem, precisam de mim, caso contrário - morrem!”
O pajé, sombra de Deus na Terra, pai de todos os espíritos, pedaço do Sol que nos aquece, mandou matar imediatamente todos os marrecos-mandarins da filha do Sinhô Benedito.
Essa crônica é a uma visão do poder, aliás, de qualquer poder; cujo cerne gira em torno de entregar o outro e todos se entregam mutuamente e pedem castigo para punir o erro dos outros, principalmente a corrupção! Quem paga tudo isso, obviamente são os coitados dos marrecos-mandarins, que no caso – somos todos nós!
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PS. Crônicas de Luana Caldas são escritas a quatro mãos: Filha e Pai.
Lindaaaaaaaaaaa!!!!
ResponderExcluirAdorei!!!!
bjs,
Kelly Longo Moitinho
Gostei, muito linda... Parabéns. ^^
ResponderExcluirMuito talentosa!
ResponderExcluirParabéns!
Nossa, adorei ela é ótima...
ResponderExcluirQuer dizer que seguira os passos do pai...que orgulho!!!
Enfim sobre as crônicas sabe que adoro falar sobre poder, é justamente o tema do meu artigo.....e acho que o poder nas mãos sempre faz das ações um interesse pessoal com intenções escrotas...mas alem dessa situação percebi na leitura outro fato.....a facilidade do ser humano em culpar o outro pelos seus erros ou por suas “coisas erradas”.
È mais fácil passar a responsabilidade do que assumir seus próprios atos.
O ladrão não deveria ter ido roubar, mas facilmente jogou a culpa no rico que logo foi culpar o pedreiro e assim por diante.
A capacidade do ser humano em tentar se safar é impressionante.
Juliana Marcandalle Ferreira
Boa noite!
ResponderExcluirParabéns pela bela crônica e pela mensagem passada nas entrelinhas de cada verso.
Sucesso.
Alexandra Collazo.