quinta-feira, 14 de junho de 2012
ASSIM ENTENDO A PALAVRA: DEUS ESTÁ...
Ouvi essa música no último culto da Igreja que estou freqüentando. Já tinha escutado ela muitas outras vezes, mas dessa vez ela me soou diferente aos ouvidos. Invariavelmente enquanto ouvia ela – me veio à mente Clarice Lispector, numa crônica sua de 1960 intitulada: “O milagre das folhas”. Considero essa crônica uma das mais belas que ela produziu, vejamos um trecho:
“Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhões de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também por que sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.”
Que o leitor não se engane, pois Clarice Lispector começa essa mesma crônica assim:
“Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como esperança.”
Quando refletia sobre a letra da música e esses pequenos excertos da crônica de Lispector, e olhando para minha vida cristã (com dez anos de existência) vejo que nunca me aconteceu um milagre, muito menos um anjo ou serafim me visitaram ou os céus se rasgarão e ouvi a voz de Deus falando diretamente a minha pessoa.
Creio que o verdadeiro milagre se deu em minha vida, quando meditei na Palavra de Deus, e ela sim, falou-me e fala ao meu coração. Talvez por isso, reconheça Deus nos pequeninos detalhes da vida, que passam despercebidos por muitos.
Aliás, não é isso que nos ensina – Romanos 1:20? Vejamos:
“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebido por meio das coisas que foram criadas.”
Gosto muito de uma frase de Albert Einstein, quando ele disse que:
“Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”.
Como se vê tudo é uma questão de como focalizamos nossa lente da vida. Clarice reconheceu o milagre numa folha que se apegou aos seus cabelos e outra que lhe bateu nos cílios. Já o cantor da música reconhece que Deus está nos detalhes da vida, corriqueiros a todos nós, pois reconhece que tudo que existe, veio a existir porque Deus é Senhor.
E eu?
Eu concordo com ambos e me sinto em paz. E faço coro com Martinho Lutero, quando ele disse que:
“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir.”
Ao que digo: Amém, pois Deus está, ontem, hoje e sempre!
***
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Palavras
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Lindo!!
ResponderExcluirGrande meu caro amigo Marcelo Caldas.
ResponderExcluirDizer que minha crônica é algo acima de seu texto é uma grande bobagem.
Sua percepção sobre Deus é vista da mais linda forma, a poética. Esta, que atinge meu ser de forma intensa e entusiasmado. Suas palavras e, principalmente sua percepção, deixa-me "cheio de Deus". Um grande abraço meu grande amigo e poeta.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pela maravilhosa e edificante mensagem postada!
ResponderExcluirDevemos perceber nas mínimas coisas a grandeza de Deus se revelando em doação, compartilhamento e inesgotável amor derramado gratuitamente sobre todas as Suas criaturas.
Assim como Clarice Lispector teve a imensa sensibilidade e conseguiu perceber a Sua presença no leve farfalhar das folhas. Em especial, numa folha especial que a tocou, afagou, cativou...