sexta-feira, 1 de junho de 2012
EXCERTOS DA 7ª ARTE (PARTE XIV)
O filme “SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS” foi lançado em 1989, tinha exatos sete anos. Ao revisitar esse filme, aliás, os grandes filmes da minha cinemateca que tento (dentro do possível rever os clássicos pelo menos uma vez ao ano) têm muito a nos dizer em pleno século XXI, pois o drama enfrentado pelo protagonista do filme é vivenciado e experimentado por muitos hoje em dia. Creio que em termos de conflitos muita pouca coisa tenha mudado da década de 90 para a década de 2010 (nesse hiato de tempo de vinte anos – que separam um decênio do outro).
A película foi bem recebida pela crítica e recebeu o Oscar em 1990 na categoria de Melhor Roteiro Original e ainda recebeu de quebra indicações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator (Robin Williams) que tem realmente uma atuação fantástica no filme. Na terra dos irmãos Lumière (França) que inventaram o que se entende hoje por cinema, o filme foi premiado com o Prêmio César em 1991, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
A escola onde se passa o filme Sociedade dos Poetas Mortos é calcada em quatro pilares: Tradição, Honra, Disciplina e Mérito. Ou seja, um lugar onde os filhos são matriculados não para pensar, mas para serem ensinados (numa educação bancária, onde só recebem o saber que é enfiado goela abaixo) para depois terem uma “carreira de sucesso” quando saírem dessa high school, já que o sonho americano pertence a todos que nascem na terra do Tio Sam. E todos merecem esse sonho americano: serem bem sucedidos!
Engraçado que basta olharmos as propagandas criminosas que passam na televisão brasileira das nossas Universidades e Faculdades, que veremos que os mesmos sempre atrelam a sua matrícula em algumas dessas “instituições de ensino” ao sucesso financeiro, profissional etc. Realmente uma piada, pois educação é para isso? Pense...
Contudo, todo esse sistema tradicional de ensino é constestado pelo professor de inglês John Keating (Robin Williams) que traz uma verdadeira inovação em sua praxis educativa, ensinando os discentes a sentirem e viverem a poesia americana e não apenas a lerem a mesma como uma régua ao lado – para encontrar seus erros etc. Por isso que no primeiro dia de aula propõe que seja arrancado do livro de poesia, uma introdução escrita por um PhD sobre esse tema, o que prontamente é feito por seus alunos que ficam maravilhados com tal ato.
Ele propõe uma leitura de poesia que se parece com um falar à fresca, simples mas intenso ao mesmo tempo, pois embebece nossa alma de sentimento e liberdade. Uma poesia que está no detalhe, no mínimo, no escondido, naquilo que aos olhos comuns pode não significar nada, mas, puxa uma palavra daqui, “uma reminiscência clássica” dali, e coloca-se de pé uma obra delicada de observação absolutamente pessoal e eis uma: Poesia.
Sobre a alcunha de: Ó Capitão! Meu Capitão! Derivado do poema clássico de Walt Whitman que leve esse mesmo nome, ele introduz nos alunos uma mensagem fantástica, capaz de revolucionar suas vidas. Pois ele (professor) foi a inspiração que tornou suas vidas em algo de extraordinário e o conceito ensinado por ele, que fez toda essa transformação é: CARPE DIEM! Traduzindo em miúdos: aproveitem o dia! Tornem suas vidas extraordinárias.
Contudo, ainda destacaria um questão de extrema importância no filme, que é a relação do pai autoritário que transpõem para seu filho, toda carga de fracassos que teve ao longo da vida e exige que o mesmo seja bem sucedido e que saia um doutor da escola e não lhe permite que faça o que realmente ama – que no caso é ser ator.
Acredito que toda vida carrega consigo a soma de injustiças, e certamente é mais corajoso lutar contra elas que a elas se acomodar, mas há uma contra a qual não se pode nada, a injustiça de base, quero falar da anacromia da morte, que faz os filhos morrerem face seus pais. Digo isso, pois no filme isso é posto de forma bem clara.
O que é realmente normal, pois quantos pais não fazem isso com seus filhos hoje em dia? Ou seja, projetam nos mesmos, aquilo que em sua vida toda não conseguiram ser ou realizar, e não titubeiam em “matar” seus próprios filhos e filhas em vida, ou seja, lhes podando dos seus sonhos, amores e do que realmente lhes move na vida. Bem disse Freud:
“Quando não matamos nossos monstros psíquicos, nos os projetamos em alguém ao nosso redor”.
Já Michel Foucault disse que:
“Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta.”
No filme, nem filho, nem pai conseguiram resolver seus monstros secretos, e o caminhado trilhado pelo filho, como solução foi trágico, como era de se esperar...
Quando vejo tudo isso, fico imensamente feliz, pois a educação e formação dada por minha mãe foi das melhores possíveis, ao invés de cobranças tive afeto, compreensão e acima de tudo muito amor. Parece que ainda posso ouvir sua voz, ao me sondar quando voltava da escola:
“Meu filho, me diga, que questão você formulou hoje em sala de aula?”
E isso fez toda a diferença em minha vida!
***
PS. Dedicado a Kelly L. Moitinho, Monaliza Silva e Mônica H. Nasser.
Marcadores:
Excertos da 7ª arte
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O texto retrata bem a realidade de mtas pessoas. Talvez um tanto familiar..rsrsr ...Amei!! Bjs
ResponderExcluirMônica H. Nasser.
Vivemos isso hj e acredito que ainda viveremos por muitos e muitos anos, afinal, nossa sociedade (através da mídia) é "domesticada" somente para o "$uce$$o"!!!
ResponderExcluirSucesso é bom, mas Sabedoria é muito melhor!!!
K. Longo