terça-feira, 9 de abril de 2013

POEMA DO MEU AMIGO - MÁRCIO UNO: !


Turkey farm in Idaho, June 1944.
PHOTOGRAPH MAYNARD OWEN WILLIAMS, NATIONAL GEOGRAPHIC.

É pra já, não vá parar!
Não há mais tempo de se perder tempo
Aliás, dinheiro faz o momento.
Se existo algo a se atravancar,
Que seja o ponteiro do relógio, devorador do ganhar.

Bem depressa, vá trabalhar!
A taquicardia tem suas razões
Estresse e fadiga substituíram grandes surpresas e emoções.
A doença é existencial,
Produzida na alma que consome o resto mortal.

Vamos lá, atenda o celular!
Não mastigue, levante-se e deixe a mesa de bar
O dever é a jóia reluzente que ofusca o relacionar.
Faça escambo, troque os supérfluos,
Entregue indivíduos nas mãos de sistemas, dogmas e vácuos.

Seja breve, nem tente pensar!
Não se perca em dialogar, compartilhar
Pule obstáculos, procure a obsessão de se realizar.
Feche os olhos e não ande na contramão,
Tape os ouvidos e nem ouça o som da razão,
Apenas siga se orientando pelas placas da multidão.

É agora, pare de se alimentar!
Comece outra dieta, sirva-se de pílulas
Faça cirurgias, compre poções mágicas e prenda as mandíbulas.
Despreze o natural, escravize-se na moda do idealismo
Não corra, não caminhe, aplauda o sedentarismo
Petrifique o percurso e exalte o imediatismo

Chegou a hora, quer se abarrotar!
Preencha todas as lacunas da agenda
Seja ativista e se entregue para a venda.
Conquiste o mundo, encarne papéis
Não tema a encenação dos mais cruéis.

Desça rápido, até que enfim!
Não se perturbe com um poema assim
Use a leitura dinâmica e não coma capim.

Decrete o luto para a solidão e quietude
Seja parceiro ávido pela finitude.
Encante-se com a ausência do silêncio
E não se encontre com o divino, Sr. Inocêncio!

Afinal, não é pra já?

***

Para conhecer mais sobre esse artista e amigo: http://marcioruno.wordpress.com

PS. Escolhi essa foto, pois penso que uma das mensagens que esse poema nos trás, é que a maioria das pessoas vive a vida dos outros e não a sua própria! E a maioria na foto são os perus - todos iguais. Quem vive mesmo - são as minorias, como essas crianças que destoam das aves. E a própria criança vive sua vida, à parte das demais (não seguindo seus mil protocolos). Penso que elas podem nos ensinar muito...

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